domingo, 12 de setembro de 2010

Uma certa entrevista...

Estamos transcrevendo aqui o conteúdo de uma carta que chegou a nós a poucos dias atrás, não conhecemos o remetente e temos sérias dúvidas quanto à sua sanidade (vocês logo verão porque), porém, para sermos justos, deixaremos que vocês caros leitores decidam...


***, 01 de setembro de 2010

Boa Noite. Eu sou Christopher Shy e antes que me pergunte, sim, esse é meu nome verdadeiro, e de qualquer forma, meu nome não é a questão aqui, estou escrevendo para contar o que me ocorreu a um tempo atrás e que até hoje desafia todo senso daquilo que chamo de realidade.
A data exata do acontecido se deu no dia 13 de agosto desse mesmo ano, durante um período que durou das 23:00 até 03:00 horas da manhã do outro dia, e se me recordo com toda essa exatidão desses detalhes, não é porque minha memória seja deveras excepcional (embora não seja de todo ruim, a meu ver) mas porque o que se deu em minha residência nessa noite foi coisa para não ser esquecida; mas estou novamente em detalhes que não vem ao caso, vamos aos fatos.
23:00 horas, o relógio badalou com escândalo como sempre (eu deveria mesmo trocá-lo, mas é uma dessas quinquilharias maternas das quais não se abre mão facilmente), pousei meu charuto sobre o suporte e preparei-me para o deleite de minha poltrona de couro reclinável quando percebi que já havia alguém nela, meu corpo arrepiou-se e senti meu coração falsear, mas o momento não era para chiliques, até porque isso não é algo a que me presto, virei-me impassível à criatura que ousava macular meu horário de descanso, e esta por sua vez me sorriu de maneira peculiar e me disse com a maior calma:
_ Espero não lhe estar atrapalhando.
Ora, confesso ter me sentido desconcertado por um momento, afinal de contas não é a fala que se espera de alguém que consegue de maneira furtiva introduzir-se em sua biblioteca particular e ainda por cima acomodar-se na sua poltrona favorita; mas toda e qualquer pergunta óbvia que poderia me ocorrer nesse momento se perdeu no momento em que a criatura me encarou, tinha um olhar gélido, firme, denso, como se fosse possuidor de uma verdade que não cabia a mim questionar, e eu, Cristopher Shy, jornalista ainda desconhecido das pessoas que realmente importam, não desviei meus olhos e fiz o que melhor sabia fazer: encher a criatura de perguntas despropositadas.
_ De maneira alguma. Temos algum encontro marcado?
_ Não. Eu não marco horários, posto que para mim o tempo é algo irrelevante.
_ Então não vejo o porq...
_ Quero que me entreviste.
_ Entendo. E porquê eu entrevistaria você?
_ Porque eu estou aqui agora para isso.
_ Ahn, e quem seria você mesmo?
_ Bem... Quem sou eu? O que eu sou? Não é uma pergunta fácil de se responder, mas se é um nome o que desejas, chame-me Drácula.

_ Drácula? E por acaso não serias conde também? - não pude conter-me a esse pequeno sarcasmo, o homem, ou melhor, o ser à minha frente era irreal demais para ser levado a sério, porém ele não deu mostras de ter se incomodado com isso.
_ Já fui conde, já fui rei, já fui muitas coisas, porém esses títulos já não me causam o interesse de outrora.
_ Diga-me, conde, como foi que entrou em minha casa? Não é necessário um convite para isso?
_ Ora, mas você me convidou! Seu recado no hall de entrada deixou isso bem explícito a meu ver, embora deva lhe avisar que um convite assim tão aberto pode lhe causar problemas... - Minha mãe e suas lembrancinhas! a alguns anos atrás ela decidiu que minha casa era soturna por demais, e me presenteou com uma placa de madeira onde se lia em letras garrafais: "SEJA BEM-VINDO!", bem, agora eu tinha um motivo mais do que consistente para escondê-la no porão.
_ Então a lenda é verdadeira, é mesmo necessário que haja um convite?
_ Sim, um convite é necessário, afinal de contas, seria muita indelicadeza adentrar um recinto sem ter sido convidado.
_ Não é melhor começar a anotar algo? Me parece que a entrevista já começou...
_ Certamente, sr. Conde. - dirigi-me à minha velha Royal e pus-me a redigir uma missiva.
_ Chame-me Drácula, é um nome que me agrada.
_ Então Drácula, o que o levou a querer uma entrevista agora?
_ E porque não agora? Já era tempo de eu ser entrevistado, se até mesmo aquele chorão do Louis teve a sua entrevista, não vejo o porque de eu não ter a minha.
_ Louis?!
_ Louis de Point du Lac. És um jornalista e não conheces a Entrevista? O que vocês jovens modernos lêem afinal de contas? Se é que lêem...
_ Perdo-me a surpresa, mas não acreditava ser aquilo algo além de um romance.
_ Tolos. Não percebem a realidade nem quando ela lhe estapeia a fronte.
_ E qual é a realidade? Vampiros existem por aí, como dizem os livros?
_ Eu existo. Outros existem. Os livros apenas contam um pouco dos fatos, mas você sabe, os livros são escritos por humanos e humanos tendem a fantasiar as coisas.
_ E porque não há provas da existência de vocês?
_ As provas estão aí, dançando sobre os vossos olhos, mas vocês, fracos mortais, preferem se prender às suas crenças infantis do que encarar os fatos.
_ Que fatos?
_ Pessoas desaparecendo todos os dias, crimes inexplicáveis, mortes por anemia grave...
_ Então são vocês os responsáveis?
_ Eu posso falar apenas por mim mesmo, e o que digo é que me apetece um bocado de diversão para quebrar a monotonia das noites longas de inverno, quando o sangue é quente.
_ Então considera a morte de inocentes algo divertido? Não é então o sangue uma necessidade como nos fazem crer as estórias?
_ Um dia pode ter mesmo sido apenas uma necessidade, mas assim como ocorreu com vocês humanos e os alimentos, o sangue rapidamente tornou-se para nós uma fonte de prazer. De qualquer forma quando se existe tanto tempo como eu, não existe nada que seja realmente necessário. Nada. Assim como não existem pessoas inocentes.
_ Então já não necessitas de sangue para sobreviver?
_ Não. Mas é um prazer a que não costumo me privar.
_ Disse ter vivido muitos anos, quantos exatamente?
_ Eu existo desde antes que o tempo fosse algo considerado, logo não posso medi-lo, digo apenas que existo a mais tempo do que sua mente limitada pode mensurar.
_ E como é existir por tanto tempo? Como se sente perante à passagem do tempo?
_ Não é tão incrível quanto fazem parecer, há momentos em que chega a ser monótono, os homens são seres extremamente repetitivos, toda essa modernidade de que se orgulham tanto, nada mais é do que a repetição da mesma história, com personagens levemente modificados, num ciclo sem fim, o qual não me apetece considerar.
_ E o que faz então? Em que ocupa seu tempo?
_ Há coisas que nem mesmo uma mente jovem como a sua seria capaz de compreender.
_ Compreendo. E o que me dizes dessa onda vampiro-mania que está por todos os lados e qual a sua opinião a respeito desse novo modelo de vampiro que está em voga?
_ Bem, como sabes, isso não é uma novidade realmente, o mundo já passou por essa fase antes, entramos e saímos de cena infinitas vezes, como eu disse, é a história que se repete. Quanto à sua outra questão, tenho antes uma ressalva a fazer, não existe um vampiro novo, veja bem, não nos reproduzimos pelos modos convencionais e também não perdemos tempo com filhotes que só trazem problemas desnecessários, somos seres antigos e gostamos de nos manter assim.
_ Mas e o que me diz de vampiros como Edward que brilha no sol e os irmãos Salvatori que brigam pelo amor de uma garota humana?
_ HáháHá - Drácula soltou uma sonora gargalhada que fez meus ossos gelarem - Não me faças rir com essa tolices, são apenas estórias feitas para garotinhos e garotinhas terem algo com que ocupar suas noites insonsas....
_ Mas não dissestes que as estórias eram reais?
_ Não. Disse que eu sou real.
_ Mas deixastes a impressão...
_ Veja bem, meu jovem, os livros não podem contar toda a verdade, até porque está além da compreensão de suas mentes limitadas, e também porque a realidade não é tão aprazível e romanesca como a pintam, a realidade é sórdida, é negra, não é agradável; por esse motivo os livros costumam mentir, é só prestar atenção aos tipos retratados em sua literatura, o vampiro-herói é aquele que não é feliz em sua condição, que renega sua raça e que se apega aos humanos que deveriam ser seu alimento e o vampiro-vilão é aquele que é satisfeito em ser o que é, é aquele que segue seus instintos e aceita seu destino com satisfação, ou seja, nos limitam aos valores humanos, como se pudessemos ser compreendidos dentro desses padrões, o que não compreendem é que estamos além disso, de suas leis, regras e não nos enquadramos em seu padrão de bem e de mal; Não existe herói ou vilão, existe o ser, a criatura e a noite.
_ Mas Drác...
_ Seu tempo acabou.
_ Como?
_ Não achavas que eu passaria a eternidade a responder suas perguntas? Além do que o sol logo despontará e não me agrada descansar longe de minha tumba...
_ Mas ainda há tantas perguntas a serem respondidas...
_ A entrevista acabou, retiro-me agora.
E antes que eu pudesse fazer qualquer objeção, após um floreio fora de moda, a criatura iniciou um rodopio enlouquecedor e num frenesi que deixaria estupefata a mais cética das criaturas, levantou vôo na forma elegante de um negro morcego.
E foi assim, sem mais nada, que se deu o ocorrido.
Ou melhor, isto é o que me lembro do ocorrido, pois os papéis onde redigi a entrevista encontram-se desaparecidos e tenho a estranha sensação de que algo está a me fugir da memória.
Será verdade? Terá sido um ilusão? Isto é algo que não descansarei enquanto não descobrir. Por ora fica aqui o meu relato.


E foi assim que terminou a carta, sem nenhum bilhete explicativo ou algo do gênero, se alguém souber algo a respeito favor entrar em contato e então se dirigir ao manicônio mais próximo....

5 comentários:

  1. A entrevista ficou muito boa..rsrs. Não resisti e comentei..

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  2. MUITO LEGAL ESSA ENTREVISTA, MAS QUEM FOI O BRILHANTE DRÁCULA FIC? E QUEM FOI O ESPERTO JORNALISTA? ACHEI MUITO BEM ELABORADO ESSA ENTREVISTA. E MAIS UMA COISA, PORQUE QUANDO FALAMOS DE EDWARD CULLEN TODOS CHEGAM MIJAR DE TANTO RIR? COITADO, ELE É A EVOLUIÇÃO DOS VAMPIROS DE HOJE, E OUTRA, ELE É O TIPO DE UMA NOVA ESPÉCIE DE VAMPIRO...

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  3. Bom o esperto Jornalista ao meu ver é só mais um na imensidão. Ele é criação da Kirah, ela deve saber quem é.rsrs. Bom ao meu ver Edward não é evolução e sim regressão, pois ele retirou muitas características vampriescas. Pra mim ele não é um vampiro, acho que algo inferior.... Valeu por ler e comentar Flávio

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  4. Nossa,ficou muito legal essa entrevista,muito boa!
    Adorei!
    =D
    Bjs

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  5. amei hauhauhauha

    Muito legal e criativo, e puxa o Dracula é ainda mais elegante do que eu imaginava xDD

    bjs e parabens

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