sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Poe e o Poema ou O Poema de Poe...

Não tem como falar de algo sobrenatural sem falar de Edgar Allan Poe, seu nome estará sempre ligado a esse tema de maneira irreversível, quem já leu já sabe o porque, e quem não leu... não perca tempo!!! Poe é um daqueles autores atemporais, cujos escritos nunca envelhecem ou perdem o viço, e se você ainda está se perguntando quem diabos é esse cara, vai aqui uma pequena biografia:



                                                                           imagem encontrada em: www.spectrumgothic.com.br/


Edgar Allan Poe - o poeta

Nascido em Boston a 19 de Janeiro de 1809, filho de David Poe e da atriz inglesa Elisabeth Arnold, que faleceram logo após o nascimento da irmã mais nova de Poe, Rosalie, sendo então adotado pelo rico casal John Allan e Frances Keeling Allan; tinha também outro irmão, Willian.
Estudou em Londres, e em Richmond onde estudou latim e poesia, continuando em Chelsea quando foi obrigado a largar em razão de dívidas  de jogo; Poe era genioso, boêmio e tinha uma vida um tanto quanto depravada, de luxos, mulheres, jogos e bebidas;  para poder sustentar-se alista-se no Exército dos Estados Unidos, para onde havia ido e serve por dois anos.
Passa a escrever poesia e em 1827 publica "Dreams" - Oh! que minha vida fosse um sonho jovem e duradouro!  no North America Baltimore e também seu primeiro livro, Tamerlane e outros poemas, financiados por ele mesmo.
Sua mãe adotiva falece em 1829, e devido à um desejo de leito de morte, Poe reata relações com o pai, que andavam estremecidas devido à jogatina, porém isso dura pouco tempo, sendo cortada devido ao casamento deste com outra mulher, com o qual Poe não concordou.
Poe alista-se na Academia Militar de West Point, mas foi demitido um ano depois.
Publica logo após seu segundo livro, Al Araaf, Tamerlane and Minor Poems e também Poemas(1931);
Vai morar então com uma tia viúva e pobre, vivendo por dois anos na miséria; 
Tem alguns de seus poemas publicados e vence um concurso litarário com a história "Mensagem encontrada em uma garrafa. Devido a isso ganha em 1835 a direção do "Southern Literary Messenger", onde é um dos maiores colaboradores; passa por alguns problemas com detratores e empregadores, porém é ali onde começa uma carreira mais séria de ensaista e crítico.
Aos 27  casa-se com sua prima Virgínia Cleim que contava então com a idade de 13 anos e que mais tarde, em 1847, morreria de tuberculose, trazendo grande sofrimento ao autor.
Sua reputação vai crescendo aos poucos, com a publicação de outras obras, como novelas, ensaios, poemas e críticas, mas é como contista que passa a ser mais conhecido; seus contos tem como característica principal o "horror" ou o "gótico", de fundo psicológico, com personagens conflitantes, dominados por maldições, pesadelos aterroradores e terrores incomuns; contrariando os tipos de texto publicados na época que tratavam de um terror mais externo e visual, Poe busca na alma do ser humano o seu lado mais negro e sórdido e o coloca em evidência, o que pode ser percebido em seus contos mais conhecidos como "O barril do amontilhado", "O gato preto", "Coração denunciador" e "A queda da casa de Usher"; Em seu flerte com o sobrenatural cria obras angustiantes e aterradoras como o subline "O corvo", o seu poema mais conhecido, servindo de influência às futuras gerações de autores como Baudelaire, Maupassant e Dostoievski, e é autor obrigatório a todo autor de horror e suspense que se preze.
Seus textos são sempre em primeira pessoa, dando-lhe um caráter autobiográfico, visto que Poe teve uma vida regida por tragédias e um destino cruel.
Porém suas obras não se restringiram apenas à esses temas, foi escritor de contos policiais,considerado um dos primeiros escritores de histórias policiais da modernidade, e criador do personagem Monsieur Dupin, gênio analítico, que é obcecado por questões como "Que canções cantavam as sereias?" e "Que nome tomara Aquiles quando se ocultou entre as mulheres?" e capaz de saber o que se está pensando baseado nos acontecimentos do dia; personagem apresentado no clássico "Os crimes da Rua Morgue" cujo final surpreendente eu não vou contar, porque spoiler é crime!!!
Devido ao conteúdo de suas obras Poe foi inclusive sensurado em alguns lugares.
Poe voltou-se para o álcool diversas vezes e tinha um comportamento um tanto errático durante toda a sua vida, passando também por diversos problemas financeiros apesar de tantas obras publicadas.
Os relatos de sua morte são divergentes, há quem diga que morreu de alcoolismo, outros que foi assassinado e também lhe foram atribuídas diversas doenças. A maioria diz que foi encontrado inconsciente na rua e levado a um hospital em Baltimore, onde teria morrido logo depois. Era 7 de outubro de 1849 quando os Estado Unidos e o mundo perdiam um de seus escritores mais peculiares.
Segundo consta, Poe teria sido enterrado como indigente em uma cova anônima, onde depois é erigido uma pedra com uma esculura de corvo e a inscrição "Nevermore" (nunca mais), fazendo uma alusão ao seu poema mais famoso.


            
 <- 1º túmulo de Poe, em Baltimore. 

 


 Detalhe da inscrição. ->








   imagem em: vivercidades.org.br  
                                                                                                                 imagem em: www1.folha.uol.com.br/                                                        
                                                                                                              






Inscrição original:                                                       Tradução
  
Quot  the Raven, Nevermore                                 Disse o corvo, Nunca Mais
Original Burial Place of Original                             Local do sepultamento de
Edgar Allan Poe                                                    Edgar Allan Poe
From                                                                    A partir de  
October 9, 1849                                                  09 de outubro de 1849 
Until                                                                     Até
November 17, 1875                                            17 de Novembro de 1849
Mrs. Marian Clemm, His Mother-In-Law             Sra. Marian Clemm, sua mãe-de-lei
Lies Upon His Right And Virginia Poe                  Recai seu direito e Virginia Poe 
His Wife, Upon His Left.                                      Sua esposa ao seu lado.
Monument Erected To Him                                  Monumento erguido a ele
In this Cemetery .                                                 neste cemitério.



Foi enterrado novamente em uma cerimônia em 1875, ao lado de sua mãe adotiva e de sua esposa Virgínia, um busto em relevo adorna o monumento de mármore e granito que tem apenas as datas de seu nascimento (data errada) e morte.
Há uma tradição em torno do monumento de Poe em Baltimore que fascina o público, a cada ano, em seu aniversário, um visitante misterioso deixa em seu túmulo original meia garrafa de conhaque e três rosas vermelhas. Hum... mistérios... parece algo de que Poe gostaria...




imagem em: confused-demon.blogspot.com

The Raven - O poema

original

Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
"'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door-
      Only this, and nothing more."
Ah, distinctly I remember it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow;- vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow- sorrow for the lost Lenore-
For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore-
      Nameless here for evermore.

And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me- filled me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating,
"'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door-
Some late visitor entreating entrance at my chamber door;-
      This it is, and nothing more."
Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
"Sir," said I, "or Madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you"- here I opened wide the door;-
      Darkness there, and nothing more.

Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, "Lenore!"
This I whispered, and an echo murmured back the word, "Lenore!"-
      Merely this, and nothing more.
Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping somewhat louder than before.
"Surely," said I, "surely that is something at my window lattice:
Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore-
Let my heart be still a moment and this mystery explore;-
      'Tis the wind and nothing more."


Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven of the saintly days of yore;
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door-
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door-
     Perched, and sat, and nothing more.

'Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter, In there stepped a stately raven of the saintly days of yore' (Illustration by Gustave Doré)
Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore.
"Though thy crest be shorn and shaven, thou," I said, "art sure no craven,
Ghastly grim and ancient raven wandering from the Nightly shore-
Tell me what thy lordly name is on the Night's Plutonian shore!"
     Quoth the Raven, "Nevermore."
Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,
Though its answer little meaning- little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blest with seeing bird above his chamber door-
Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber door,
     With such name as "Nevermore."
But the raven, sitting lonely on the placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered- not a feather then he fluttered-
Till I scarcely more than muttered, "other friends have flown before-
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before."
     Then the bird said, "Nevermore."
Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
"Doubtless," said I, "what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master whom unmerciful Disaster
Followed fast and followed faster till his songs one burden bore-
Till the dirges of his Hope that melancholy burden bore
     Of 'Never- nevermore'."
But the Raven still beguiling all my fancy into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird, and bust and door;
Then upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore-
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt and ominous bird of yore
     Meant in croaking "Nevermore."
This I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamplight gloated o'er,
But whose velvet violet lining with the lamplight gloating o'er,
     She shall press, ah, nevermore!
'Respite- respite and nepenthe, from thy memories of Lenore! Quaff, oh quaff this kind nepenthe and forget this lost Lenore!' (Illustration by Gustave Doré)
Then methought the air grew denser, perfumed from an unseen censer
Swung by Seraphim whose footfalls tinkled on the tufted floor.
"Wretch," I cried, "thy God hath lent thee- by these angels he hath sent thee
Respite- respite and nepenthe, from thy memories of Lenore!
Quaff, oh quaff this kind nepenthe and forget this lost Lenore!"
      Quoth the Raven, "Nevermore."

"Prophet!" said I, "thing of evil!- prophet still, if bird or devil!-
Whether Tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate yet all undaunted, on this desert land enchanted-
On this home by horror haunted- tell me truly, I implore-
Is there- is there balm in Gilead?- tell me- tell me, I implore!"
     Quoth the Raven, "Nevermore."
"Prophet!" said I, "thing of evil- prophet still, if bird or devil!
By that Heaven that bends above us- by that God we both adore-
Tell this soul with sorrow laden if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the angels name Lenore-
Clasp a rare and radiant maiden whom the angels name Lenore."
     Quoth the Raven, "Nevermore."

"Be that word our sign in parting, bird or fiend," I shrieked, upstarting-
"Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken!- quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!"
     Quoth the Raven, "Nevermore."
And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
     Shall be lifted- nevermore!
'And my soul from out that shadow that lies floating on the floor shall be lifted - nevermore!' (Illustration by Gustave Doré)

 (essa versão do poema e as imagens adjuntas foram encontradas no seguinte
endereço eletrônico: http://www.helderdarocha.com.br/literatura/poe/raven4.html)


versão traduzida:

O corvo

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
"É alguém - fiquei a murmurar - que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais."

Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro
e o fogo agônico animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda
algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
e nome aqui já não tem mais.

A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,
arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia
e a sossegá-lo eu repetia: "É um visitante e pede abrigo.
Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais."

Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
"Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito ai fora me esperais;
mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,
que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,
assim de leve, em hora morta." Escancarei então a porta:
- escuridão, e nada mais.

Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la,
sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,
só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: "Lenora!"
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: "Lenora!"
Depois, silêncio e nada mais.

Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,
mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
"É na janela"- penso então. - "Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,
o vento sopra. E só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais."

Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
- é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
como um fidalgo passa, augusto e, sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto - uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.

Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,
desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.
"Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular"- então lhe digo -
"não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo,
qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;
pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,
que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,
uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta
e que se chame "Nunca mais".

Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
enquanto a mágoa me envenena: "Amigos... sempre vão-se embora.
como a esperança, ao vir a aurora, ELE também há de ir-se embora."
E disse o Corvo: "Nunca mais."

Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,
julgo: "É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.
Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura
e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo
de seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: - o ritornelo
de "Nunca, nunca, nunca mais".

como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,
girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais
e, mergulhado no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,
visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,
com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo
grasnava sempre: "Nunca mais."

Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,
eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.
Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada
dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,
dessa poltrona em que ELA, ausente, à luz que cai suavemente,
já não repousa, ah! nunca mais ...

O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso
ali descessem a esparzir turibulários celestiais.
"Mísero!", exclamo. "Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus,
esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora.
Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta! - brado.- Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal
que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,
de algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita
mansão de horror, que o horror habita, imploro, dize-mo, em verdade:
EXISTE um bálsamo em Galaad? Imploro! dize-mo, em verdade!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."

"Profeta!" exclamo. "Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!
Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,
fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,
verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,
essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais!"

"Seja isso a nossa despedida! - ergo-me e grito, alma incendida. -
Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!
Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!
Deixa-me só neste ermo agreste! Alça teu vôo dessa porta!
Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!"
E o Corvo disse: "Nunca mais!"


E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,
sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.
No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,
e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.
Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra,
não há de erguer-se, ai! nunca mais!


Tradução de Milton Amado, 1943.




Esse é praticamente o poema mais conhecido de Edgar Allan Poe, já serviu de inspiração para músicas, poemas, filmes, seriados, livros entre outros; preferímos colocar tanto a versão original quanto essa traduzida para que vocês possam comparar.
E por falar em tradução, aqui no Brasil esse poema já teve várias versões, dependendo de quem o traduziu, esta é a minha preferida, se quiser consultar as outras versões é só seguir os links abaixo:

tradução em prosa por Helder da Rocha, Tradução (em verso rimado) por Fernando Pessoatradução de Machado de Assis 

site do museu de Poe: Poe Museun


Isso é o que tínhamos a dizer sobre esse trágico autor que chegou aos 200 anos de nascimento em 2009, por ora... suas obras e principalmente seu Poema com certeza ainda renderão diversos posts devido à incrível riqueza.
Espero que gostem e aguardamos seus comentários.






                                                                                                     
                                                                                                                    imagem em:eupassarin.wordpress.com

                  
  

Um comentário:

  1. Nossa gostei desse poema de Poe. Aliás, tenho que começar ler alguma obra desse escritor, quem sabe esse dia chegue? Alguns poemas dele dará um bom post em meu blog. =)

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